11.03.2020 | Março Amarelo: Mês da Conscientização sobre a Endometriose | Saiba mais sobre este tema na entrevista com o Dr. Guilherme Karam (CRM 119365), Mestre em Ginecologia e Diretor Técnico do Núcleo Santista de Endometriose (nsendometriose.org)

Endometriose: Diagnóstico, Sintomas, Gravidez e Prevenção

Quando a mulher recebe o diagnóstico de Endometriose, o que é preciso esclarecer para a paciente?

Dr. Guilherme: A primeira coisa a ser dita é que não se trata de uma doença maligna, ou seja, câncer. Embora seja uma doença complexa que impacta de forma significativa na qualidade de vida das pacientes, a endometriose é uma doença benigna e passível de tratamento clínico caso seja diagnosticada precocemente, e nos casos mais graves, a cirurgia pode ser efetiva, desde que realizada por profissionais capacitados.

2. Quais os sintomas principais que alertam para um quadro de Endometriose?

Dr. Guilherme: São eles: dor moderada à intensa no período menstrual (dismenorréia), normalmente de caráter progressivo; dor na relação sexual, principalmente em posições de penetração profunda (dispareunia de profundidade); dor pélvica crônica sem relação com a menstruação (há mais de 6 meses) e infertilidade. Outras manifestações comuns são alterações intestinais e miccionais (urina) durante a menstruação.

3. Endometriose X Gestação: quais os caminhos?

Dr. Guilherme: A endometriose é responsável por cerca de 40-60% das causas femininas de infertilidade, no entanto ter a doença não significa que a paciente não conseguirá ter filhos. Diante da dificuldade de engravidar, após um ano de tentativa, recomenda-se excluir possível causa masculina (avaliar a fertilidade do homem) e realizar alguns exames para avaliação da função reprodutiva feminina. Normalmente as opções são métodos de reprodução assistida em pacientes assintomáticas (sem sintomas) ou com poucos sintomas, e cirurgia para tratamento da endometriose em pacientes com sintomas importantes. Nestes casos, o retorno da fecundidade depende do grau de extensão da doença.

4. Quais os principais métodos para diagnóstico da Endometriose?

Dr. Guilherme: Somente com a história clínica e o exame físico com toque vaginal um ginecologista atento é capaz de aventar a possibilidade do diagnóstico. Porém, são os exames de imagem como Ressonância Magnética de Pelve e Ultrassonografia com Preparo Intestinal para Mapeamento de Endometriose são capazes de realizar o diagnóstico, que é confirmado por anatomia patológica.

5. Existem maneiras e hábitos que podem ajudar a prevenir a Endometriose?

Dr. Guilherme: Hábitos de vida saudável são, até o presente momento, a única forma de prevenir o acometimento da doença. No entanto, ainda faltam informações consistentes que possam afirmar qual atitude seria a mais eficaz neste sentido. Uma boa alimentação, livre de alimentos industrializados e agrotóxicos são medidas iniciais a serem orientaras para as pacientes com endometriose. Outras medidas como realizar atividade física regular, manter uma boa qualidade do sono e evitar ambientes com poluentes atmosféricos devem ser seguidas.

6. Resumidamente, o que é a Endometriose?

Dr. Guilherme: Endometriose é uma doença que pode ser definida pela presença do tecido interno do útero (endométrio) em outras localizações, principalmente nos órgãos pélvicos como ovários, ligamentos, bexiga e intestino. Este tecido chega até o abdômen e pelve através das tubas uterinas (trompas) durante a menstruação, quando reflui no sentido inverso da maior parte do conteúdo menstrual que sai pela vagina. Trata-se de uma doença crônica que pode acometer as mulheres durante sua vida reprodutiva até a menopausa quando se torna rara.

7. Algumas matérias sobre o tema tratam a endometriose como “mal da mulher moderna”. Até que ponto isso é verdade?

Dr. Guilherme: essa afirmação faz sentido quando consideramos o estresse como um dos principais fatores de risco da endometriose. Dupla jornada de trabalho, alimentação artificial, ansiedade, noites mal dormidas estão presentes na vida da maioria das mulheres das cidades de médio e grande porte. Estudos mostram que esses fatores estão envolvidos na prevalência da doença nestas populações.

8. Qual recado deixaria para as mulheres no que se refere à Endometriose?

Dr. Guilherme: Não desista de lutar pela sua saúde e qualidade de vida! A endometriose é uma doença que pode ser tratada e o mais importante é ter acesso à informação e profissionais que lidam com frequência com essa doença. Neste sentido é muito importante o engajamento de todos no combate à doença que vem trazendo um grande fardo para sociedade, seja pelo ponto de vista financeiro, seja pelo social. Esse é o intuito do Mês Amarelo de Conscientização da Endometriose.

Sobre o Entrevistado
Dr. Guilherme Karam (CRM 119365 e RQE 33.077) é Professor Assistente da Faculdade de Ciências Médicas da UNIMES (Santos), Mestre em Ginecologia pela Santa Casa de São Paulo e Coordenador da Ginecologia do Hospital Ana Costa de Santos. Além disso, é Diretor Técnico do Núcleo Santista de Endometriose (nsendometriose.org) e Médico Cirurgião Ginecológico do Instituto da Mulher (PMS).